A agressão física e
psicológica repetitiva entre crianças tem vindo a aumentar em todo o mundo. A
violência crescente na Sociedade associada ao cada vez menor tempo que os pais
dedicam aos filhos empurrando, tantas vezes, para a escola a obrigação de os
educar são alguns dos principais factores que têm alimentado o fenómeno. Em
Portugal, entre 20 a 58 por cento dos estudantes já sentiram na pele o que é
ser marginalizado, com consequências físicas e/ou verbais, por um ou por vários
colegas de escola em simultâneo. A melhor prova de que este tipo de
comportamento deixou de ser raro é que o termo anglo-saxónico que o classifica
– bullying, criado por Dan Olweus quando
investigava sobre tendências suicidas em adolescentes – teve direito a
importação.
O que é o bullying?
Segundo os especialistas, quando na escola atitudes como bater,
insultar, empurrar e humilhar, se tornam rotineiras e consecutivas e em que os
agressores são sempre os mesmos e as vítimas também, se está perante uma
situação que assim pode ser classificada.
Os agressores (bullies)
têm, regra geral, personalidades autoritárias estimuladas por uma forte
necessidade de controlar ou dominar; são eles, como diz o professor e
especialista em educação, Allan L. Bean, no seu livro “A Sala de Aula Sem
Bullying”, “crianças arrogantes,
conflituosas e que adoram ganhar.” Já no grupo das vítimas estão não só
aquelas que correspondem ao padrão normal mas, com acrescido potencial para
despertarem a atenção de agressores, as crianças que detêm grande fealdade ou
beleza, alguma/s deficiência/s física/s, religião ou raça diferentes, ou uma
personalidade, naturalmente, submissa. As estratégias de ataque, por sua vez, são,
em muito, determinadas pelo sexo de quem as protagoniza. Os agressores rapazes
praticam bullying directo ameaçando e
batendo. As raparigas tendem a optar pelo bullying
social, isto é, aquele que é desenvolvido com o recurso a ofensas, boatos e
rejeição. As consequências deste tipo de atitudes, que se podem prolongar
durante anos e atingem directamente a auto-estima, são imprevisíveis e deixam
marcas psicológicas profundas que tanto podem afectar, já na idade adulta, o
normal relacionamento com outros pares como originar depressões que, em caso
extremo, culminam em suicídio (ou “bullycídio”). Allan L. Bean sublinha
igualmente que 75% dos casos de tiroteios nas escolas norte-americanas são
levados a cabo por vítimas deste tipo de agressões que se revoltam contra a
repressão sofrida durante anos.
De que forma os pais podem detectar quando os filhos estão a ser
vítimas de bullying? Não existem, na
realidade, métodos perfeitos mas é de dar especial atenção a sintomas como a
ausência de vontade de ir às aulas e andar triste, aparentar não ter amigos,
revelar-se demasiado sensível às brincadeiras dos pais ao mesmo tempo que a
elas a criança reage com choro ou agressividade, ter-lhe sido dada, pelos
colegas, uma alcunha depreciativa, demonstrar um baixo rendimento escolar,
procurar isolar-se… Aos pais compete actuar de forma preventiva, nomeadamente,
participando, sempre que possível, na vida da escola (não faltando,
inclusivamente, às reuniões de encarregados de educação) e mantendo com os
filhos e com os professores diálogos francos sobre o ambiente escolar. No
entanto, os pais nunca devem esquecer que devido à vergonha que as crianças
vítimas de bullying muitas vezes
sentem, é-lhes difícil assumir que sofrem perseguições ou agressões físicas
e/ou psicológicas (de origem verbal). Explica o autor de “A Sala de Aula Sem
Bullying” : “Muitas vítimas não têm
coragem de contar aos professores ou pais o que se passa. Porquê? É simples, é
muito embaraçoso assumir que ninguém gosta de nós e que não nos conseguimos
defender”. Caso os filhos assumam que estão a ser vítimas de bullying poderá ser um erro
incentivá-los a desvalorizarem o que lhes está a acontecer ou induzi-los a que
junto dos agressores façam de conta que não são incomodados. Uma conversa,
nesse âmbito, com os professores ou mesmo com aquele/aqueles que está/estão a
molestar o seu filho pode apresentar-se como uma solução para pôr fim ao
problema. Alimentar a auto-estima das crianças elogiando-as assim como
incentiva-las a terem amigos (ou um melhor amigo) é muito importante. Se, mesmo
assim, houver dificuldade desta em ultrapassar o problema (ou as consequências
de bullying forem visíveis no seu
comportamento) não é de descurar a preciosa ajuda que um psicólogo pode
oferecer.
“O que devo fazer se os meus
colegas me chamam nomes, ameaçam-me, batem-me ou não me deixam participar nas
suas brincadeiras?”
- Não ter vergonha ou medo, em primeiro lugar, de contar aos pais
e aos professores (e mesmo a um irmão mais velho) o que se passa. Eles são os
únicos que podem ajudar. Há muitos problemas que só se conseguem resolver com a
ajuda dos adultos.
- Evitar andar sozinho.
- Tentar encontrar um bom amigo dá-nos força e protecção. Ter amigos
dentro da escola é sempre muito bom mas para criar e reforçar estas e outras
amizades também é necessário apostar em actividades fora das aulas (por
exemplo: ginástica, natação, música, escuteiros…)
- Andar direito e confiante, olhar sempre em frente e pôr o corpo
de lado, para nos conseguirmos defender melhor, pode ser útil e evita
agressões.
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