O dilema do perito escondido e a criação de um negócio
Existe uma regra – baptizada
de princípio Zulu – apadrinhada, nos anos 70, pelo guru de investimentos, Jim
Slater, que continua a ser válida nos tempos actuais - em traços gerais: qualquer
um tem a capacidade de se tornar rapidamente num perito sobre qualquer assunto desde
que se dedique completamente a esse tema. Transpondo, pretende-se com isto
afirmar que nunca se ter investido no desenvolvimento de um negócio por conta
própria ou não se saber previamente como fazê-lo não é sinónimo de se estar, à
partida, condenado ao fracasso ou sequer é impeditivo de se conseguir implantar
com êxito um projecto. Por outro lado, há que ter sempre a consciência de que o
sucesso (pelo menos o que se pretende duradouro) dá trabalho… muito! Provavelmente por isso, associado ao receio
de assumir riscos, existe grande disparidade entre o número de pessoas que
fantasiam sobre negócios e o das que, efectivamente, os concretizam.
Criar um negócio requer pois
a aposta no desenvolvimento de algumas competências técnicas e uma generosa
dose de paixão... sem a qual, aliás, não é possível superar os obstáculos que
surgem até que toda a “máquina” esteja montada e a funcionar em pleno e, muito menos,
se consegue convencer, quem quer que seja, da mais-valia do projecto em que se
aposta.
No início, não está “o verbo”
mas a ideia.
Tendências de consumo
Por muito elevado que seja o
grau de inovação de um projecto, de nada a originalidade serve se não estiver
alicerçada numa base sólida que ofereça valor (uma mais-valia) ao mercado (ou
nicho de mercado) em que se pretende implantá-lo - o mercado actua de forma inteligente
e não adopta algo ao qual não reconhece qualquer utilidade. Note-se, todavia,
que a mais-valia tanto pode existir na criação de algo que supre uma lacuna
entre as ofertas existentes (um nicho de mercado não coberto por ninguém, por
exemplo) como, simplesmente, por conter um elemento de diferenciação vantajoso relativamente
a outras empresas que actuam na mesma área. O que é então, necessário, antes de
mais, para que uma “ideia” seja, de facto, “luminosa” e tenha “pernas para
andar”? Identificar, em primeiro lugar, o melhor possível, o comportamento do
consumidor analisando as tendências de consumo que deste emergem.
A consultora britânica Fitch
apelidou de transumers ou
“consumidores em trânsito” o tipo de negócio que retratasse de maneira restrita
todos os que viajam e, nomeadamente, aqueles dão mais importância às experiências
(e as coleccionam com a ajuda do aeroporto) do que aos bens para toda a vida
(como ter uma casa), o conceito evoluiu desde então sendo agora mais amplo. Um
óptimo exemplo actual de “transumerismo” é o espírito cultivado por cadeias de
pronto-a-vestir como a Zara, Mango e/ou H&M. Ao apostar na constante
rotatividade de stocks e na muito rápida
criação de novas colecções, indo de encontro aos insaciáveis desejos de mudança
por parte do consumidor (quantas vezes já deu por si a comprar roupa não porque
a que tem já está em estado pouco usável mas por obter satisfação em vestir toilletes novas?). Nesse aspecto também,
já são muito poucos os que compram um telemóvel com o desejo de que este dure toda
a vida. Num cada vez mais curto período de tempo, e espicaçada pelas inovações
introduzidas nos novos modelos (que produzem novas experiências), surge a
necessidade de mudança. Ao mesmo tipo de tendência responde a Swatch, a qual fez
do relógio um acessório com um tempo de vida tão efémero quanto o de uma peça
de roupa. O “transumerismo” encarna, por isso, o mundo do descartável. De
acordo com a holandesa TrendWatching é o trilho em que vive o consumidor que
prefere o “aqui e agora” em vez do passado (que acabou) ou o futuro (que é
incerto); o consumidor que exalta a satisfação momentânea em detrimento do
aborrecimento permanente provocado pela propriedade dos bens. É também atendendo
ao “transumerismo” que algumas marcas permitem agora que os consumidores tenham
acesso a produtos caros sem a subjacente obrigação de os adquirir - para os transumers é a experiência e não a
aquisição que dá prazer! De resto, esta tendência de consumo, como se compreenderá,
não sobressai apenas em terrenos do marketing… A quem ainda tenha dúvidas
acerca da sua efectividade, bastará reparar como, nos nossos dias, as relações
entre as pessoas, tantas vezes à semelhança da Chiclete cantada pelos Taxi, nos anos 80, “que se prova, mastiga e deita fora, sem demora”, aparentam ser, se
assim se pode enlevar, fiéis seguidoras dos mais afincados parâmetros
“transumeristas”!
©Paula Martín da Silva
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