terça-feira, 30 de outubro de 2012

INVESTIMENTO/IDEIAS DE NEGÓCIO


O dilema do perito escondido e a criação de um negócio
Existe uma regra – baptizada de princípio Zulu – apadrinhada, nos anos 70, pelo guru de investimentos, Jim Slater, que continua a ser válida nos tempos actuais - em traços gerais: qualquer um tem a capacidade de se tornar rapidamente num perito sobre qualquer assunto desde que se dedique completamente a esse tema. Transpondo, pretende-se com isto afirmar que nunca se ter investido no desenvolvimento de um negócio por conta própria ou não se saber previamente como fazê-lo não é sinónimo de se estar, à partida, condenado ao fracasso ou sequer é impeditivo de se conseguir implantar com êxito um projecto. Por outro lado, há que ter sempre a consciência de que o sucesso (pelo menos o que se pretende duradouro) dá trabalho… muito!  Provavelmente por isso, associado ao receio de assumir riscos, existe grande disparidade entre o número de pessoas que fantasiam sobre negócios e o das que, efectivamente, os concretizam.
Criar um negócio requer pois a aposta no desenvolvimento de algumas competências técnicas e uma generosa dose de paixão... sem a qual, aliás, não é possível superar os obstáculos que surgem até que toda a “máquina” esteja montada e a funcionar em pleno e, muito menos, se consegue convencer, quem quer que seja, da mais-valia do projecto em que se aposta.
No início, não está “o verbo” mas a ideia.


Tendências de consumo
 Por muito elevado que seja o grau de inovação de um projecto, de nada a originalidade serve se não estiver alicerçada numa base sólida que ofereça valor (uma mais-valia) ao mercado (ou nicho de mercado) em que se pretende implantá-lo - o mercado actua de forma inteligente e não adopta algo ao qual não reconhece qualquer utilidade. Note-se, todavia, que a mais-valia tanto pode existir na criação de algo que supre uma lacuna entre as ofertas existentes (um nicho de mercado não coberto por ninguém, por exemplo) como, simplesmente, por conter um elemento de diferenciação vantajoso relativamente a outras empresas que actuam na mesma área. O que é então, necessário, antes de mais, para que uma “ideia” seja, de facto, “luminosa” e tenha “pernas para andar”? Identificar, em primeiro lugar, o melhor possível, o comportamento do consumidor analisando as tendências de consumo que deste emergem.

“Transumerismo”
A consultora britânica Fitch apelidou de transumers ou “consumidores em trânsito” o tipo de negócio que retratasse de maneira restrita todos os que viajam e, nomeadamente, aqueles dão mais importância às experiências (e as coleccionam com a ajuda do aeroporto) do que aos bens para toda a vida (como ter uma casa), o conceito evoluiu desde então sendo agora mais amplo. Um óptimo exemplo actual de “transumerismo” é o espírito cultivado por cadeias de pronto-a-vestir como a Zara, Mango e/ou H&M. Ao apostar na constante rotatividade de stocks e na muito rápida criação de novas colecções, indo de encontro aos insaciáveis desejos de mudança por parte do consumidor (quantas vezes já deu por si a comprar roupa não porque a que tem já está em estado pouco usável mas por obter satisfação em vestir toilletes novas?). Nesse aspecto também, já são muito poucos os que compram um telemóvel com o desejo de que este dure toda a vida. Num cada vez mais curto período de tempo, e espicaçada pelas inovações introduzidas nos novos modelos (que produzem novas experiências), surge a necessidade de mudança. Ao mesmo tipo de tendência responde a Swatch, a qual fez do relógio um acessório com um tempo de vida tão efémero quanto o de uma peça de roupa. O “transumerismo” encarna, por isso, o mundo do descartável. De acordo com a holandesa TrendWatching é o trilho em que vive o consumidor que prefere o “aqui e agora” em vez do passado (que acabou) ou o futuro (que é incerto); o consumidor que exalta a satisfação momentânea em detrimento do aborrecimento permanente provocado pela propriedade dos bens. É também atendendo ao “transumerismo” que algumas marcas permitem agora que os consumidores tenham acesso a produtos caros sem a subjacente obrigação de os adquirir - para os transumers é a experiência e não a aquisição que dá prazer! De resto, esta tendência de consumo, como se compreenderá, não sobressai apenas em terrenos do marketing… A quem ainda tenha dúvidas acerca da sua efectividade, bastará reparar como, nos nossos dias, as relações entre as pessoas, tantas vezes à semelhança da Chiclete cantada pelos Taxi, nos anos 80, “que se prova, mastiga e deita fora, sem demora”, aparentam ser, se assim se pode enlevar, fiéis seguidoras dos mais afincados parâmetros “transumeristas”!

©Paula Martín da Silva

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