De uma situação de trabalho
incerto e temporário, Cristina Couto Soares conseguiu alcançar a sua
independência com a criação de um projecto inovador e, em todos os aspectos,
ecológico que consiste na distribuição de cabazes de legumes e frutas inteiramente
biológicos de alta qualidade.
Já
todas nós ouvimos falar em agricultura biológica, nomeadamente nas questões
relacionadas com o bem-estar e a saúde, uma constante preocupação no quotidiano
das pessoas. Cada vez mais se procura um estilo de vida que vá de encontro a
práticas saudáveis, sobretudo ao nível da alimentação. Mas, afinal, o que é a
agricultura biológica? De acordo com a Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e Alimentação, “a agricultura biológica é um sistema de produção
que promove e melhora a saúde do ecossistema agrícola, ao fomentar a
biodiversidade, os ciclos biológicos e a actividade biológica do solo.
Privilegia o uso de boas práticas, em lugar do recurso a factores de produção
externos, tendo em conta que os sistemas de produção devem ser adaptados às
condições regionais. Isto é, conseguido, sempre que possível, através do uso de
métodos culturais, biológicos e mecânicos em detrimento da utilização de
materiais sintéticos”.
Foi
neste sentido que surgiu o projecto Horta
à Porta. Aliando a sua formação em Engenharia Agronómica com o facto de
estar sem trabalho certo, Cristina Couto Soares optou por arriscar num negócio
que ainda não tinha grande expressão em Portugal. Segundo a sua mentora, este
projecto começou de forma espontânea e inesperada. “A história da ‘Horta à Porta’ começa com a mudança de um amigo para
Celorico de Basto, para alugar um terreno e praticar agricultura biodinâmica.
(A agricultura biodinâmica é um passo em frente da agricultura biológica, uma
vez que incorpora não só as práticas desta mas também outras complementares).
Ora, o Filipe Antunes, o meu amigo, começou a ter alguns produtos hortícolas,
que vendia no Porto, mas o tempo não lhe chegava para tudo e comecei eu, a seu pedido,
a entregar os produtos dele aos seus clientes. Tudo isto em Maio de 2003.”
De
um grupo inicial de sete clientes, rapidamente aumentou para mais do dobro, o
que obrigou a readaptações várias. “Uma
vez que o Filipe não tinha grande variedade hortícola, comecei a procurar
outros produtores que pudessem satisfazer os pedidos dos clientes que, em
pouquíssimo tempo, já eram 20…”.
Com
o aumento da procura deste tipo de serviço, Cristina viu uma oportunidade para
investir a fundo num projecto que parecia ter pernas para andar. Enquanto
desempregada tomou conhecimento de que poderia criar o seu próprio negócio,
bastando para isso entregar um projecto na ILE - Iniciativa Local de Emprego.
Apostada em fazer sucesso desta ideia, informou-se de todos os passos a seguir
no IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional) do Porto. “Estudei a legislação, frequentei duas a
três sessões de esclarecimento e apresentei a minha ideia de fazer entrega ao
domicílio de produtos biológicos, ao responsável pelas ILE no IEFP. Este
considerou que o projecto preenchia os requisitos necessários e aconselhou-me a
procurar uma empresa de gestores que preparassem a componente financeira do
projecto”.
Finalmente,
em Janeiro de 2004, Cristina assinou o contrato com o IEFP e, através do
financiamento disponibilizado para o projecto, conseguiu expandir horizontes e
melhorar a qualidade do serviço aos seus clientes, que eram cada vez mais. Comprou
uma carrinha frigorífica, uma balança profissional e outros materiais que lhe
permitiram garantir condições térmicas adequadas aos produtos hortícolas. Dois
anos mais tarde, em 2006, registou a marca - Horta à Porta -, criou o site
e certificou-se como distribuidora de produtos biológicos.
Actualmente,
conta já com um numero significativo de clientes, a maior parte deles conquistados pelo “passa a palavra”, se bem que para esta
agora empresária de sucesso, o momento em que avançou com os seus planos foi
crucial para os frutos que agora está a colher. “Provavelmente, também tive a fortuna de iniciar este trabalho numa altura
propícia em que o mercado estava bastante receptivo.” Em jeito de
retrospectiva, Cristina nota uma melhoria em termos de oferta de produtos e
também em termos de qualidade dos mesmos, com produtores cada vez mais
interessados em aderir ao projecto. “Há
maior oferta de produtores, com quem mantenho uma comunicação aberta e constante
e uma relação de confiança… e sentimo-nos todos parceiros de trabalho, o que é
muito bom”.
Sempre
atenta às necessidades dos seus clientes procura, a cada dia, melhorar a
qualidade do serviço, pondo em prática várias ideias e tentando sempre tirar o
máximo partido do contributo da agricultura biológica, numa preocupação
constante em alertar para os benefícios do uso destes produtos hortícolas. “É muito mais agradável trabalhar num
segmento do sector agrícola que tem um objectivo não menos empresarial que a
agricultura convencional mas que é consciente, em termos da qualidade do
produto e da qualidade de vida em geral.” Para isso conta com a ajuda de
uma colaboradora, a nutricionista Margarida Nazareth, que providência consultas
de nutrição para esclarecer qualquer tipo de dúvidas em relação a métodos
alimentares e a este tipo de agricultura.
Para
Cristina, o melhor deste projecto é o contacto directo com os seus clientes e,
para além disso, o facto de “poderem usufruir
de um serviço de entrega ao domicílio, com garantia de qualidade dos produtos,
sem terem que pensar o que vão comprar nem terem que se deslocar.”
Como
apoiante deste tipo de cultura, que não utiliza adubos químicos, herbicidas ou
hormonas, Cristina garante a entrega de “alimentos
sem produtos tóxicos, com maior valor tradicional e mais saborosos”. Aliado
a estas características, este serviço é também muito diversificado com a
entrega de produtos variados de semana para semana, consoante os produtos
disponibilizados pelos produtores e a época sazonal. “Na Primavera começa a estar disponível o tomate, o feijão verde, mais
para a frente a beringela, a courgette, etc. Enquanto no Inverno há todo o tipo
de couves como a penca, grelos, nabiças, brócolos, abóbora, couve flor…” Os
clientes, sejam eles famílias, restaurantes ou lares, têm a possibilidade de
aceder a um serviço que vai de encontro às suas necessidades semanais, já que
podem seleccionar, de entre três opções, o tipo de cabaz que mais se adequa à
sua satisfação. “O nosso serviço
baseia-se na entrega de 3 tipos de cabaz de legumes - pequeno, médio ou grande,
em que semanalmente eu faço uma selecção de 8, 10 a 11 e 12 legumes,
respectivamente, para cada tamanho de cabaz, mediante a oferta dos produtores
nessa semana. Mas o mais importante é garantir um cabaz diversificado, sempre
pensado de forma a ter legumes para sopa, saladas, acompanhamentos e com um
certo equilíbrio entre raízes e folhas”.
Desde
o seu início que o objectivo do projecto é proporcionar um serviço de
qualidade, sem que os clientes tenham que se deslocar ou preocupar com compras
e ao, mesmo tempo, incutir a ideia de uma alimentação mais equilibrada e
saudável através da agricultura biológica. Assim sendo, todas as semanas ou
quinzenalmente (consoante os pedidos de cada cliente) e sempre à quarta-feira,
Cristina faz a entrega, porta a porta, dos seus produtos. “Os produtos são colhidos na terça-feira, chegam-me durante a tarde, eu
e a minha colaboradora preparamos os cabazes até à noite e no dia seguinte às 8
horas em ponto, saio com a carrinha carregada para começar a primeira ‘tranche’
de clientes”.
Para
garantir a qualidade dos produtos e a satisfação dos seus clientes, “todos os produtos vendidos pela ‘Horta à
Porta’ são certificados, e provenientes de produtores certificados em ‘Modo de
Produção Biológica’”. Como operadora certificada de produtos biológicos,
que a limita à comercialização de apenas produtos bio, Cristina está sempre
atenta às novas regras de preservação e à segurança alimentar dos seus
clientes, uma vez que está, ocasionalmente, sujeita a auditorias de controlo. Para
além do tradicional cabaz recheado de legumes, a Horta à Porta aposta também na divulgação de outros produtos, como
frutas variadas, que devem ser encomendadas à parte do cabaz, mas também carne
de vitela certificada, azeite, compotas e algumas especialidades. Sempre a
pensar no cliente e de modo a facilitar-lhe, ainda mais, o dia-a-dia, Cristina expandiu
recentemente o seu serviço com a adição do serviço de Nutrição, garantido por
uma nova colaboradora, nutricionista, que é quem elabora as receitas que
acompanham o cabaz. Mas mais do que isso, “as
vantagens da nutricionista prendem-se com um aconselhamento que está sempre
disponível e implícito nas receitas concebidas pela Margarida Nazareth, e mais
um serviço que a ‘Horta à Port’a pode prestar de forma profissional, numa
clínica, sob a forma de consulta”. Questionada pela StarBeauty sobre como
tem sido a aceitação do seu trabalho, Cristina mostra-se bastante satisfeita. “A aceitação tem sido muito boa. Comecei há
5 anos com 7 clientes e hoje tenho 98, com marca registada, ‘site’ e
publicidade na carrinha há 4 anos. O ‘passa palavra’ foi decisivo no
crescimento, sem sombra de dúvida”. O projecto tem tido tanto sucesso que
apesar de, inicialmente, não fazer parte dos seus planos a expansão, Cristina
tem actualmente algumas propostas. “Tenho
propostas de ‘franchising’ em diferentes
zonas do país, de pessoas me contactaram. Ainda não decidi”.
Este
projecto, além de enaltecer as bases da cultura biológica na sua vertente
ecológica, sustentável e socialmente responsável, contribui para alertar os
benefícios na saúde e bem-estar que podem advir da inclusão dos produtos biológicos
na alimentação diária. www.hortaaporta.com
©Paula
Martín da Silva; Fotos: Dreamstime
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